Merda. Vim (para variar) para a recepção do hotel, queria usar aquela ferramenta fantástica que é a Internet, mas, muito provavelmente devido a um qualquer erro de logística, a mesa destinada ao uso dos computadores tem 4 entradas para cabos de rede, mas só existem 3 cabos. 3! E tendo em conta que já cá estavam 3 (3 novamente!) pessoas, eu fiquei sem cabo.
Falando de coisas bem mais importantes, descobri um CD que já tinha há uns anos mas que nunca tinha ouvido com atenção. Na altura em que fiz o download (criminoso! Só compro CDs dos Pink Floyd e eventualmente um ou outro do qual goste mesmo muito) já tinha lido umas coisas sobre ele que me despertaram o interesse, nomeadamente umas críticas bastante positivas no Expresso. O álbum em causa chama-se Beats Volume 1 – O Amor Não Tem Fim e foi gravado pelo Sam de Kid (sim, aquele rapaz de Chelas que em cada entrevista que dá repete a palavra man um número quase incontável de vezes), o cerne da questão é que o CD está bastante interessante para quem gosta deste tipo de música, uma ou outra faixa não presta para nada, mas de uma forma geral considero-o um trabalho bastante agradável para, com uma boa aparelharem e uma sala com um ou dois pequenos candeeiros acesos, se deixar tocar do inicio ao fim (tenho estado a ouvi-lo, sendo que no principio a música que estava a escutar nos fones era And Then You Kissed Me II dos Cardigans, gosto muito e recomendo).
Em relação a coisas diferentes (mais ou menos importantes consoante a perspectiva), ainda estou em Maastricht, e o mais engraçado é que gosto disto. Do espírito que se vive, das pessoas, das ruas, dos pequenos pormenores que dão aquele sabor diferente às coisas.
Falta um mês e dois dias para voltar para cá, nessa altura de certeza que venho com um espírito diferente, venho para começar as aulas. Confesso que tenho medo, tenho medo de todas as situações diferentes (agradáveis ou não) com as quais tenha de saber lidar, vou ter que aprender muita coisa, vou ter crescer essencialmente. Vou sentir falta da Lamarosa, vou sentir falta das pessoas com quem não falo e que não conheço.
Uma das coisas da qual sei que vou ter realmente saudades é da caça, não que seja um grande aficionado, nem um grande entendido na matéria, mas aqueles dias, ainda que poucos, em que acordo ainda de noite para fazer largas dezenas de quilómetros de carro mais uns tantos a pé e no fim nem uma peça de caça me aparecer à frente e ainda assim ir contente para casa sei que me vão fazer falta. Dos dias em que o termómetro do carro assinala -7 graus e ainda assim saímos do carro e andamos de espingarda ao ombro a ver se passa alguma coisa, e feitas as contas a única coisa que apanhamos é um balde cheio de satisfação por ter umas horas de conversa.
Vou ter saudades que me digam que quero sempre ter razão e que eu queria é que as coisas fossem sempre feitas à minha maneira, vou sentir a falta de discussões e dias de má cara, de provocações mútuas e choros no final. Sentir falta que digam que a comida holandesa não estava boa e que a portuguesa é bem melhor quando isso não me cabe na cabeça (a carne estava tão boa!). Vou ter saudades de abraços e beijos. Vou ter saudades e pronto!
Vou ter saudades dos tremoços, do Chefe do S.Paio e do velhote que é o ser mais lento do mundo a abrir duas minis. Vou ter saudades de aprender sobre música e sobre tantas outras coisas. Vou sentir falta que me chamem parvo por causa de algumas coisas que digo, vou querer voltar para lá e entrar em conversas discordantes sobre tantas outras pessoas. Vou ter saudades de ver gente a manter o café aberto só para nós jantarmos. Vou ter saudades de ouvir opiniões do tipo “o kit de sócio do Benfica, devia trazer senhas para imperiais nos estádio da Luz”.
Vou ter saudades de ir ao 1º Frente discutir, rir, aprender e ensinar. Vou ter saudades de me rir de opiniões com as quais não consigo concordar e de outras que se fosse eu a dizer acho que não traduziam tão bem o que penso. Vou ter saudades de aturar e de ser aturado.
Vou querer voltar para um sitio em Tomar onde haja uma máquina de setas, ir a cafés que não gosto para estar com gentes de quem gosto. Vou ter saudades de ouvir conversas sobre carros que das quais a única coisa que entendo é o nome da marca. Sentir falta que me chateiem a cabeça para sair de casa (e essencialmente de sair na realidade), de dizer que chego cedo e chegar a meio da noite e ter uma chave por dentro da porta.
Vou ter saudades de praticamente tudo, das pessoas que gosto e das pessoas de quem não gosto. Vou ter saudades de casa, vou ter saudades de uma cidade da qual nem sou grande fã, de ouvir apitos a toda a hora, do fumo dos escapes e do carro do lixo que passa lá em baixo às 3 da manhã (o motorista é bastante pontual). Vou ter saudades de estar sozinho, de apagar a luz e meter uma música baixinha e poder cantá-la ainda mais baixo.
Sei acima de tudo e para lá de tudo o que possa acontecer, que quando o Erasmus acabar e voltar à minha terra, ao meu pais, que a primeira coisa que me vai apetecer é voltar para Maastricht e sentir todas as saudades mais uma vez.
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