Devaneio

Posso passar horas a tentar esquecer-me que existo. Posso passar horas a tentar desaparecer. Posso passar horas a tentar ser invisível. Posso passar horas a tentar esconder-me do mundo. Posso inclusive tentar que o mundo se esconda de mim. O problema é quando o mundo salta à frente dos meus olhos e eu não os consigo fechar a tempo e fico, mais uma vez, cego. É sempre pior quando é o mundo a bater-nos e não nós a bater no mundo, quando o mundo nos esquece e nos ignora, quando segue a sua “vida” só a pensar em “si”, mesmo quando o ser humano, por muito mau que posso alguma vez ter sido, se preocupa com ele, quando esse mundo trata os animais e os humanos de maneira diferente, quando os humanos fazem tudo para fazer as pazes com o mundo e mesmo assim ele os ignora.

O que se pode pensar numa primeira análise é que o humano merece, a questão é que o humano vive a sua vida num mundo do qual não consegue fugir por muito que lhe apeteça, pode-lhe apetecer saltar, correr, voar e gritar, mas só o fará se o mundo o quiser. Apetece-lhe fugir e não pode, o mundo, mesmo não fazendo nada e limitando-se a ignorar o humano, tal como o humano ignora tantas outras coisas, não deixa, mantém o humano preso por uma corrente invisível e inquebrável que nenhum humano consegue abrir por muito que tente.

Paro e penso, afinal o humano gosta mais do mundo do que o mundo gosta do humano, e perante tal desequilíbrio é impossível haver alguma amizade, compaixão ou consideração entre ambos.
Agora só me resta descobrir como se quebra a tal corrente, e ai sim vou viver para o Espaço.

De repente apeteceu-me apetecer-me. Mas já passou.